A SIDA DE HOJE

Falámos no texto publicado no “Sidadania Um”, algo sobre o passado e sobre a situação actual da SIDA hoje, que parece estar simplificada nas terapias com poderosos químicos que mantém o vírus controlado e mantêm o sistema imunitário forte.
Na verdade fizeram-se grandes avanços a nível terapêutico e é possível prolongar a vida de um infectado, sendo a longevidade do mesmo semelhante à de uma pessoa não infectada.
Algo que assustava as pessoas no passado era a quantidade de comprimidos que se tinham de ingerir num dia. Tendo iniciado a medicação em 1997 nunca fui dos mais azarados nessa quantidade de comprimidos para controlar o vírus e se bem me lembro o máximo que tomei foram 14 comprimidos dia. Actualmente tomo 8 comprimidos divididos por duas tomas diárias e não me preocupa em reduzir este número, pois a minha maior preocupação é com uma menor toxicidade da medicação e não com a conveniência das tomas. Poderia facilmente fazer o “Switch” para outra medicação, e inclusivamente optar por um comprimido por dia, mas não o quero fazer. Tenho a noção que os químicos utilizados são muito poderosos e acho que devo poupar o organismo de toxidade em detrimento da conveniência.
Mas vamos falar do tema actual de um comprimido dia como terapêutica, e do pensamento popular de que a SIDA já não é o terror de dezenas de comprimidos por dia para que o vírus seja controlado. Será esta a realidade?
Comparando as histórias de príncipes e princesas que finalmente casaram e viveram felizes para sempre, esta nova história de que se tem SIDA, toma um comprimido por dia e viverá sem problemas para sempre não tem o mesmo final feliz.
Para os novos infectados, é mais uma barreira derrubada, contra o inicio da medicação que durante um período de 3 ou 4 anos lhes dá a tranquilidade necessária para entenderem a doença e a compreenderem. Reduzirá os casos de desespero e tantas vezes de suicídio que aconteciam e vai proporcionar uma melhor adesão à terapêutica o que é fundamental para que se controle a infecção.
Depois começam a aparecer os danos no organismo que a medicação provoca. Os medicamentos outros que não os retrovirais estes pagos pelo doente, começam a ser necessários. Uns para controlar o colestrol, outros para os problemas de hipertensão, o coração começa a dar mostras de problemas e aí vêm mais comprimidos. O pobre do doente abre uma conta de “não poupança” na farmácia que a cada dia vai aumentando. O corpo começa a deformar-se devido à lipodistrofia e o ginásio começa a ser necessário, para minimizar os danos ou se tiver capacidade económica começa a fazer tratamentos com enchimentos e outros métodos, que em Portugal não têm qualquer participação do estado.
E ainda há quem diga que ter SIDA não acarreta despesas pois o estado fornece os medicamentos gratuitamente. Fornece apenas os retrovirais e mais nenhuns e é bom que o faça pois se isso não acontecesse 90% dos infectados não tomaria medicação as cargas virais não seriam suprimidas e seriam uma arma biológica na propagação da doença, pois de não infectantes se tiverem cargas virais indetectáveis passariam a infectar eficazmente quando as cargas virais atingissem valores altíssimos. Seria o genocídio de uma população e o aumentar o numero de infectados o que produziria uma proliferação em cadeia da doença.
A SIDA continua a ser uma doença com a qual nos devemos preocupar seriamente. A SIDA hoje não é uma simples infecção crónica viral é muito mais do que isso. Não existe cura actualmente e os cientistas procuram-na. Como tudo na vida tem um fim certamente aparecerá uma solução para erradicar o vírus. Será uma vacina ou um tratamento mensal , semestral ou anual, que mantenha o vírus adormecido e não infectante?
Essa será a SIDA do futuro e iremos falar sobre esse tema no blogue “Sidadania Memória”, que actualmente está vocacionado para as terapias anti HIV , logo que o tempo disponível para a escrita nos permita.

5 comentários:

Fatyly disse...

Espero e acredito que irá aparecer uma solução eficaz para não dizer radical contra esse desgraçado virús de mil faces! Gostei deste texto e realmente só me dá raiva o Estado também ele ter duas caras em termos de comparticipações...e a sociedade continuar a assobiar para o lado.

Um abraço sincero

sideny disse...

Raul
Credo não tinhas uma foto melhor, a caveira parece que tem um berlinde em cada olho.

Eu continuo a dizer que talvez ja não seja no meu tempo, que se acabe com o virus.(era bom)

mas ainda bem que as coisas foram evoluindo nas medicações, agora com menos comprimidos é otimo e se for somente um melhor ainda.
Realmente este virus é esperto , quando estão quase la , ele prega novamente uma rasteira.

as coisas hao-de mudar um dia.
E enquanto o estado der os retrovirais as coisas estão bem , quando esse apoio faltar é que vão ser elas.

bom texto
beijocas

alex disse...

Esta história que o hiv deixou de ser problema pq é fácil de ser controlado e os medicamentos são poucos e gratuidos,já eu ouvi muitas vezes na comunidade hetero, que se recusa a usar perservativo nas suas aventuras de uma noite.
Aqui é mais a falta de informação que impera.
Estas pessoas não sabem que a médio e a longo prazo devido à toxicidade dos retrovirais, vão aparecendo outras doenças,como a lipodistrofia,que se resolve com simples operações plásticas.
Mas para o bolso de quem elas são acessíveis?
Se são pagas na totalidade e feitas em clinicas privadas?
Belos textos estes raúl a informação nunca é demais.
beijo

Arnaldo Reis Trindade disse...

Raul,
bom texto, espero que textos como estes assutem as pessoas que acham que a AIDS é uma doença que não vai lhes causar mais tantos problemas, principalmente com medicamentos e que aprendam a levar a coisa mais a sério
Abraços.

Gabriela Coutinho disse...

Uma vez eu li que a cura está proxima, que eles acharam o calcanhar de aquiles do vírus, bom não sei, sempre morri de medo da doença, as vezes tenho vontade de fazer oral sem camisinha porém como quem vê cara não vê aids, não faço, por que para mim sexo bom é aquele que no dia seguinte você acorda sem preocupações.
Gostei do blog, é bom ter um blog para informar as pessoas sobre estes assuntos, uma coisa que eu não entendi direito, você disse que se eles não usassem retrovirais a carga de vírus aumentaria e seria fácil de se propagar, isso significa que por exemplo através do beijo que não é possível pegar, por causa da baixa carga de vírus já se tornaria possível?
Passa lá no meu depois.
Beijos.