O meu dia de aniversário


Acordei bem cedo. Viro-me e reviro-me na cama, mas as dores num corpo recentemente cortado com ossos serrados sobrepõem-se ao conforto de um leito quentinho quando toda a casa parece um gelo. O banho matinal começou por ser um suplício. A água bem quente do chuveiro amenizou o mau estar devido ao frio. Seguem-se as massagens com creme hidratante à perna onde tiraram a “Safena” para ver se a circulação sanguínea melhora e o inchaço desaparece. Olho para o relógio e pouco passa das seis horas da manhã. Os cafés estão todos fechados e necessito da minha dose de cafeína para acordar completamente. Ligo o Computador e vou dar uma vista de olhos aos blogues e ler comentários. Surpresa no Sidadania Um, estava um texto da Silêncio Culpado, com uma agradável massagem ao meu ego, que me faz ficar embasbacado, pois sou visto de uma maneira tão diferente daquilo que realmente sou. Perco-me nas leituras matinais, fico pensativo, e como gostaria de ser apenas um pouco aquilo que alguns pensam que sou. Bem sei que há quem me veja de outra forma, como sendo um ser odioso, e egoísta cheio de defeitos que acima de tudo pretende o protagonismo em tudo o que faz. Talvez acabe por ser do tipo nem tanto ao mar nem tanto à terra, e nem uns nem outros estarão certos e a verdade onde estará nem mesmo eu sei.
Olho para o relógio novamente são sete horas. Demasiado cedo ainda. Sete e meia e arrisco sair para tomar o café que tanta falta me está a fazer. O frio entra-me pelas calças e as mãos gelam. Preciso vestir as calças de pijama à laia de ceroulas e comprar umas luvas que os dedos doem com o frio. Tenho de ir para o circuito de manutenção no parque da vila fazer a minha caminhada matinal. Equipado bem agasalhado estou preparado para começar o dia. Gorro escocês de Tartan na cabeça que comprei em Edimburgo e que estava perdido numa gaveta falta as luvas. São cerca de nove horas e a loja das roupas deve estar a abrir.
-Queria umas luvas pretas quentinhas. Uma série delas escolhi e perguntei quanto era.
-Não é nada senhor Raul. Dê cá um beijinho e muitos parabéns. A loja é de familiares, mas negócio é negócio, mas assentou bem esta oferta.
Toca o telefone estava já no parque a iniciar a minha caminhada. Descobri uma maneira nova de mãos livres o telemóvel por dentro do gorro segura-se bem.
-Então o meu bebé como está? Era uma amiga recente, cuja amizade entrou tipo Turbilhão. Momentos de partilha deliciosos.
Uma SMS, do Paulo a seguir outra da M. depois telefonam-me mais uns amigos.
Parece que todo o mundo se lembrou do dia dos meus anos. Cheira a mistério no ar há surpresas, que ainda não descobri, mas que sinto.
O dia está a decorrer num clima de calor humano à minha volta. Manifestação de carinho e apreço com a qual me estou a sentir bem. Para o dia ser perfeito só falta mesmo algum FDP que não me grame aparecer a chatear-me. Mas os inimigos e pessoas que não gostem de nós são necessários na vida para reflectirmos acerca da razão desse não gostar e se for caso disso limarmos as arestas que causam essa fricção. O que seria do mundo se não houvesse os dois pólos, se não houvesse céu e inferno ou o bem e o mal não fossem diferenciados? Creio que a nossa razão de existir deixaria de ter sentido.
Tirei o gorro, as luvas e o casacão e embora esteja o aquecimento ligado, o calor que estou sentindo é o que estou recebendo de todos os meus amigos e amigas.
Bem hajam por isso.


"A morte e a dor da morte, presente em cada momento das nossas vidas, tem que servir um propósito sublime e nobre. Tem que servir para nos despertar, em cada segundo, para a dádiva da vida. Seja em que circunstâncias forem. Não importa se estamos doentes, não importa se nos encontramos completamente vencidos pelo desaparecimento de um ente querido, não importa se atravessamos um período de imensas provações e privações. Estamos vivos.
Em cada derrota temos que buscar forças para o próximo combate, em cada vitória temos que nos alimentar de alegria e bem-estar e acordar sempre para o facto, insubstituível de estarmos vivos! Apreciem cada momento bom como se fosse o último, vivam cada mau bocado agarrando-se à suprema dádiva de continuarem vivos. E vivam como se devessem algo à vida e nunca como se a vida nos devesse algo."

14 comentários:

sideny disse...

raul
Irra com a tua ginastica de madrugada, fiquei gelada so de ler.
não podes guardar isso para depois do almoço?
mais um miminho para ti.
MUITO PARABENS com muita saude.
beijocas.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Raul

A parte final do texto em itálico é sublime. É neste contexto que projecto a tua imagem e te transformo no meu herói favorito. Porque é nessa grandeza de alma que se expande e agarra a vida que retratamos a forma do nosso caminhar. As pessoas que aprendem com os erros são aquelas que mais aprecio. As reclassificações retemperam-nos e reforçam-nos e traçam outros desafios.
Às vezes discordo de ti e faço-o frontalmente. Porém a tua capacidade humana soprepõe-se sempre às nossas divergências.
Apesar do frio espero que tenhas um jantar quentinho junto dos teus e com muito afecto.

Abraço

Eme disse...

Meu querido Raul

os opostos frio/quente, os adjectivos com que te auto-rotulaste sobre o que o mundo há de pensar sobre a tua pessoa, os contrários e os sentidos e tudo o mais que faz mover o universo e as massas cósmicas são um parto que acelera os progressos do instinto e do próprio ser. Tudo é necessário para que se opere qualquer mudança que nos faça sentir em harmonia. Quando apareceste neste mundo criaste uma grande agitação no universo. durante a tua vida ainda o agitaste mais. O segredo do Homem não está nos estádios ultrapassados da sua vida mas na natureza da sua alma, ou essência como preferires. E só o sentido íntimo permitem descobri-la. Eu descobri-TE. Pouco me importa que te classifiquem ou que te dês rótulos. Repito, eu descobri-TE. Encantada porque não encontrei um autor ou uma máscara. Encontrei um HOMEM.

O meu presente virtual está no Haart. apressado mas de dentro.

Beijo imenso Raul. Parabéns.

alex disse...

contigo descobri a vida ,a esperança a força o acreditar e a vontade de vencer. tiveste o poder, de me mostrar o meu egoismo sem me ferires, sinto-me leve, mais louca ,mais feliz.fizeste o impossivel abris-te o cadeado da prisão e os sentimentos fluiram.depois de tanto tempo bicho voltei a sentir-me humana.sei que o caminho é longo duro,mas estou armada.ob. porme aceitares como amiga assim tão imperfeita. Por favor nunca deixes de ser louco.bj alex

R.Almeida disse...

Sideny
Gelado, geladinho. E depois um gelado de morango chupado pelos dois quando for verão vai ser óptimo. Já agora e como estamos em crise vamos convidar a Lidia, a Alexa, a M. e o Paulo para todos partilharmos um só gelado. Quem vai ficar com o Pau?
Beijos Amigos

R.Almeida disse...

Lidia
Realmente a parte em itálico é sublime assim como é quem a escreveu. É um pouco de mim escrito por outras mãos. Às vezes entro noutros corpos com a minha Alma e saiem textos destes. Um novo Chico Xavier? Nada disso eu incarno em corpos ocupados por outras almas que ainda vageiam neste mundo. É a partilha conseguida através de uma amizade profunda em que almas gémeas vivem em corpos separados.
E como os mistérios são apenas para os estranhos acho que entendes.
Um abraço enorme.Tu és especial para mim.

R.Almeida disse...

m.q. M.
O maravilhoso no meio de encontros é que o que um pensa o outro diz ou o que este pensa é di-to pelo primeiro,e isto tem acontecido sistemática e repetidamente, entre nós. O teu presente virtual é o fruto de saberes, que aprendeste quando te levei a vaguear pelo meu deserto. Como vês o deserto não é o árido e o seco que nos apresentam os livros, mas sim um lugar maravilhoso cheio de vida e de belezas a descobrir quando nos entranhamos nele. As nossas vidas são desertos maravilhos com calor e frio, aridos e cheios de flores, secos e com fontes da água da vida.
A verdadeira beleza êstá escondida nas dunas guardada por escorpiões e serpentes e só se revela quando abrimos os olhos da alma.
E no final qual de nós tem mais segredos?
Beijo

R.Almeida disse...

Alex[a]
As talas colocadas nos olhos dos animais de tiro que puxavam as noras, permitiam-lhes andar sem se aperceberam que caminhavam em circulo sem sair do mesmo lugar.
De olhos abertos poderás seguir o teu caminho em segurança e descobrir tudo o que de bom existe à tua volta.
Se não te desprenderes da canga, que estava presa ao teu pescoço e teimares em seguir novamente em circulos decerto após algumas voltas cairás de novo.
Redescobre a vida porque embora não seja possivel modificar o passado estamos sempre a tempo de construir o nosso futuro.
Pega na minha mão e caminha mas fortalece as tuas pernas pois a liberdade só chega quando autónomamente conseguimos seguir em frente por nós próprios.
Um beijo

Fatyly disse...

ohhhhhhhhh vim tarde, mas mais vale tarde do que nunca. Ontem estive de prevenção:))) às netas e adormeci cedissimo.

És cá dos meus, sete, sete e meia, há que ir curtir o frio e como sabe bem o cafézinho:)
Os meus votos são os que desejo para mim: que falem o pior de nós, que digam cobras e largartos, aqui ou lá fora, PORQUE É SINAL QUE ESTAMOS VIVOS, porque depois de batermos a soleta...ahhhhh era uma santidade de pessoa e lá vão de flor ou velinha:)

Gosto muito de ti e da tua equipe, apesar de não conhecer pessoalmente, construo uma imagem e pouco ou nada me interessa se é a real ou não, porque acredito que todos nós mostramos um pouco de nós (eu mostro quase tudo). Também não esqueço que és um bom patrão (gargalhadas) ver um dos teus post em que deste férias ao pessoal ou eles a ti:) e que dia de ontem se repita por muitos mais anos, ok?
Deixo-te um enorme abraço sincero e ainda bem que tenho acesso a estes blogues onde aprendo muito e a parte "amarela" do teu texto, ai que bem que me soube, nem tu imaginas como.

Beijos rapaz e tiiiiiii cuida

R.Almeida disse...

Fatyly
Vens sempre a tempo e nunca é tarde para chegar. A tua presença é sempre muito agradável e sabemos que só não nos visitas quando isso te é inteiramente impossível. Um beijo enorme para ti.

Arábica disse...

Acordar e ainda que com dor



cobrar o dia, ao tempo, ao lamento.



Muito fica a vida a dever aos que nem vida souberam ter...


Um beijo,

R.Almeida disse...

Arabica
Comentário sentido na essência e na verdade da vida.
Um beijo grande para ti também miga.

Odele Souza disse...

Passei para ler este post do dia de teu aniversário. Passei para ler os comentários, e ver, o quanto gostam de ti. Que bom.

Beijos.

Arnaldo Reis Trindade disse...

Chegando atrasado e desejando tudo de melhor pra tí Raul, pessoa fantastica que vem literalmente salvando vidas com a força que tens.

desculpe a demora em vir aqui, falta-me tempo.

Abraços

vou roubar o texto em Italíco daqui.