Entendendo as Análises Clínicas


O hemograma faz parte do grupo de análises de rotina e é dos testes ao sangue que mais orientam para a existência de um grande número de patologias, desde uma infecção às doenças mais graves até aos casos extremos de leucemias.

Basicamente são o estudo dos componentes do sangue total, que são os glóbulos vermelhos, brancos e as plaquetas. Cada um deles desempenha diferentes funções no organismo e as suas alterações são mencionadas no hemograma, sendo de seguida interpretadas pelo médico. O próprio utente pode perceber o significado das principais alterações sobretudo se já se encontra a par do seu estado de saúde e do funcionamento de alguns órgãos ou até da existência de um foco de infecção.

Na colheita do sangue para hemograma este é colocado num tubo que tem anticoagulante para que o estudo possa ser realizado em condições. O sangue é colocado num aparelho que realiza a contagem automática das variedades de glóbulos brancos (leucócitos) e o resultado apresenta-se sob a forma de uma fórmula leucocitária constituída pela seguinte série e seus valores normais:

- Neutrófilos: 45 a 75%
- Eosinófilos: 2 a 4%
- Basófilos: 0 a 1%
- Linfócitos: 20 a 30%
- Monócitos: 4 a 8%


Na presença de patologias estes valores alteram-se significativamente o que permite orientar no diagnóstico ou no acompanhamento de um processo de cura de uma doença. Estes são os componentes da chamada série branca uma vez que se tratam de glóbulos brancos também denominados de leucócitos. O valor total dos leucócitos é o primeiro a aparecer no relatório do hemograma e o seu valor normal oscila entre 5.000 a 9.000 por milímetro cúbico. Desempenham essencialmente um mecanismo de defesa contra agressões por infecção ou de outra natureza. As funções estão assim distribuídas pelas células acima mencionadas e compreender a sua função será o passo para a interpretação das suas alterações. Resumindo,

Neutrófilos – são essenciais na luta contra infecções microbianas. Quando estão muito aumentados as suas formas são estudadas ao microscópio pois em infecções agudas a medula desata a produzi-los intensamente e passam a circular no sangue ainda sob formas imaturas e nesta observação se conclui que o organismo se encontra a combater uma grande infecção. Existem outras patologias mais complexas que provocam o seu aumento e diagnosticam-se pelo estudo de aspectos particulares do neutrófilo ao microscópio.

Eosinófilos – aparecem aumentados nas infestações por parasitas, nas doenças alérgicas e em casos mais complexos como alguns tipos de leucemia e no sindroma de infiltração pulmonar, no cancro dos brônquios e vários tipos de tumores. Ou simplesmente existe eosinofilia familiar, encontrando-se sempre aumentados sem que haja um estado de doença.

Basófilos – Pouco concorrem para a interpretação do hemograma. São praticamente inexistentes na rotina e o seu aparecimento em número elevado indica patologias graves sujeitas a outro tipo de estudo.

Linfócitos – nos estados de convalescença em que os neutrófilos diminuem após o combate de uma infecção, os linfócitos apresentam-se aumentados. Aumentam também em infecções crónicas como a tuberculose, sífilis, brucelose, mononucleose infecciosa (Epstein-barr ou doença do beijinho), leucemias linfociticas e linfomas (formas de cancro). Em caso de valores abaixo do normal só tem valor quando são mesmo em percentagem muito baixa que em geral representa mau prognóstico: estados de imunodeficiência, infecção por HIV, cirrose hepática e outros processos infecciosos graves.

Monócitos - são células fagocitárias, o que significa que digerem restos de outras células ou corpos estranhos mantendo o organismo livre dos mesmos. Assim aumentam na presença de infecções bacterianas como a tuberculose e na fase de melhoria de infecções agudas. Se a infecção se encontrar em estado agudo, os monócitos tendem a ser inferiores ao normal.

As alterações na série vermelha do hemograma são as respeitantes aos glóbulos vermelhos, ao conteúdo em hemoglobina, tamanho e forma dos mesmos. Abordaremos essa parte num próximo texto a publicar.

(Texto elaborado por: "Sidadania - Grupo Técnico-Cientifico")

6 comentários:

SILÊNCIO CULPADO disse...

Raul
Este texto é esplêndido: didáctico, formativo e contribuindo para a vigilância que cada um deve ter sobre o seu estado de saúde.
Depois do texto espectacular que publicaste sobre a água oxigenada, este produto passou a fazer parte dos meus hábitos de consumo. São pequenas grandes coisas que fazem toda a diferença e que dão um sentido supravalioso a este espaço.
Abraço (e tenho muito orgulho em ti, no teu trabalho e na forma como rompes as vagas turbulentas).

Fatyly disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fatyly disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fatyly disse...

Tive que eliminar os dois anteriores por erros de palmatória.
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Também ao longo da minha vida sempre me interessei por certos temas da medecina e ciência em busca de algo, daí ter lido com imenso agrado este texto explicativo e muito bem entendível.

Há muitos anos atrás, havia uma princesa, nada disso, eu, esta peste sempre do contra fez exames existentes na altura para a vinda da sua primeira cria. Os leucócitos batiam nos 12.000! Pouca importância deram.
Já grávida o valor total dos leucócitos ultrapassava os 9.000 e batia os 12.000 e até 14.000, factor que acontece a 90% por cento das grávidas.
Nasceu a minha pimpolha, na fuga da guerra e atropelos da vida não fiz análises. Três anos depois perdi os gémeos com seis meses de gestação porque algo correu mal, sempre a fazer análises e finalmente a terceira filha que travei uma valente batalha por ter ido buscar uma "Acidose tubelar renal", ou seja perdia pelas urinas tudo que o organismo deveria absorver em termos de vitaminas, sais, minerais e outros ais. Venci, venceu, vencemos e venceram os médicos todo aquele "quebra cabeças"e sei que a minha filha foi uma cobaia e motivo de muitos colóquios. A única que continuou só com 50% de absorção foi a vitamina E, que dita o crecimento, tendo ficado um metro e quarenta e quatro de gente que vale por muitos mais centimos.
Até hoje e felizmente não tem nada e os leucócitos dela sempre estiveram entre os 5.000 e 9.000.

Estes factores nada tinham a haver com o meu "endicapo".

Comecei a dar sangue tinha 26 anos, ou seja entre os gémeos que perdi e a terceira.

Foi aqui que começou a busca "curiosa" dos médicos: O certo é que os desgramados dos meus leucócitos jamais estiveram nos 9.000, mas entre os 12.000 e 14.000 e todos os outros componentes sanguíneos estavam nos valores normais.
Como era possível? Leucócitos a mais para defenderem o que não existia? Aquilo era mais que um batalhão mas o resto do "pessoal" mantinham-se normalissimos e sem alterações e a velocidade de sedimentação era "super boa".
Devido à rinite alérgica que fiquei após anos e anos de natação competitiva e pelo malvado cloro, fiz análises sem qualquer sintoma e em plena crise de rinite e em crise aí os aparvalhados vinham para os 6.000/7.000 e os outros movimentavam-se um cadinho como a dizerem: temos que fazer algum trabalhinho lolllll
Uma coisa de baralhar qualquer um e ainda hoje me recordo de episódios do mais hilariante que há.
Resumindo é uma componente minha e tão minha, herdado não sei de quem, e que transmiti à minha filha mais velha e só sei que cientificamente é possível.
Consta da minha ficha clínica e outro pormenor muito importante: alergia à penicilina e derivados.

Este ano fiz 31 anos que dou sangue, mas fui chamada a semana passada e não pude ir porque estava super constipada.

Faço análises todos os anos para além do "relatório" que recebo de seis em seis meses sobre a minha dádiva de sangue.
Acho que já contribui com muito como um dever de cidadã e vou parar por aqui, embora saiba que possa ir até aos 60 se não surgir nada de grave.

Desculpem a extensão deste comentário, mas por vezes ao interpretarmos "valores de análises" somos induzidos em erro e podemos entrar em parafuso. Quando me pedem para ver se "está tudo bem", vejo e só falo do que sei e inclusivé já disse a muitos (por ver valores alteradissimos) que não sabia porque os termos comparativos variam de laboratório para laboratório e que só o médico poderia interpretar.

Beijos à essa equipe maravilhosa

Eme disse...

Uma espécie de bom manual de orientação que pode vir a ser útil. Muitas pessoas tem tendência a perguntar logo quando vão levantar as análises a um lab, se está tudo bem, e o que significa isto ou aquilo, a ansiedade não as deixa esperar pela visita ao médico. Este post pode vir a ser util por isso. O comentário da Fatily é interessante, permite-me Fatily que te diga que o teu caso é bastante comum, há pessoas que inexplicavelmente têm os leucócitos aumentados e a PCR normal o que despista as infecções. Mas refiro que ointervalo de valores normais para leucócitos no sangue é de 6.000 a 10.000. O valor que apresentas hoje em dia nem é significativo, pode até ser do tipo genetico/familiar ou que o organismo está em constante alerta, as crises de rinite bastam para os subir. No teu caso só seria motivo de preocupação se tivesses mais de 15.000-17.000,já é uma sobrecarga, de resto parece ser uma predisposição inocente. Já agora podes dar-me alguns, estão sempre baixos entre 4.000 e 5.000 e por cá ando ;)

beijos e abraços distribuidos

Fatyly disse...

m.

Obrigado pelas tuas palavras esclarecedoras, e hoje sei que há muitos mais seres humanos com esta situação que é de facto genética. Posso dar-te sim senhora:)
Eu também ando por cá:~)

Uma beijoca