LIPODISTROFIA "O novo rosto da SIDA"

O tratamento anti-retrovírico permitiu uma redução da incidência e morbilidade das Infecções Oportunistas, uma maior supressão da replicação vírica, um aumento da sobrevida e diminuição da mortalidade em doentes VIH/SIDA.
No entanto esta mesma terapia trouxe inúmeros efeitos indesejáveis com repercussões na qualidade de vida dos infectados. Os principais efeitos adversos associados à HAART podem ser resumidos em 6 grupos:
-Morfológicos (lipodistrofia),
- Metabólicos (resistência à insulina, dislipidemia, hiperlactameia e alterações ósseas),
-Toxicidade hepática, pancreática e renal,
-Hematológicos (anemia e neutropenia),
-Neuromusculares (neuropatia periférica, síndrome neuromuscular associada ao VIH, miopatia),
-Reacções de hipersensibilidade.
Hoje vamos centrar-nos nas alterações morfológicas mais concretamente na síndrome de lipodistrofia que é basicamente uma alteração da disposição de gordura corporal que afecta cerca de 25 a 50% dos doentes infectados VIH/SIDA.
As mudanças corporais mais descritas tem sido a LIPOHIPERTROFIA que se caracteriza por uma acumulação anormal de gordura dorsocervical, aumento do volume dos seios, aumento da gordura abdominal e expansão da circunferência do pescoço (buffalo hump ou corcunda de búfalo) e a LIPOATROFIA que consiste na perda de gordura subcutânea na face, pernas, braços e nádegas e diminuição da gordura periférica.
Inicialmente a lipodistrofia foi associada ao uso dos fármacos IP contudo parece haver evidências destas alterações associadas ao uso dos INTR nomeadamente à Estavudina (d4T). No entanto não se sabe ao certo o que causa a lipodistrofia mas considera-se que tenha uma causa multifactorial ou seja é causada pela acção do próprio VIH, pela idade, factores genéticos, hormonais, factores imunológicos e pelo uso da HAART.
A síndrome de lipodistrofia pode ocasionar dificuldades psicológicas e emocionais nos infectados VIH como redução da auto-estima, percepção negativa da imagem corporal, evitamento de certos locais públicos como praia e piscinas onde o corpo está mais exposto, depressão, ansiedade, vergonha, impacto na vivência da sexualidade pois a pessoa sente-se menos atractiva sexualmente, medo da revelação forçada do diagnóstico pela associação entre o seu aspecto físico e a SIDA, e evitamento dos contacto sociais como forma de fugir ás perguntas relativas ao aspecto físico.
Têm sido feitas tentativas de corrigir as alterações lipodistróficas mas até agora com êxito limitado:
Uma das formas de evitar a lipodistrofia é evitando o uso de fármacos que a causam (pelo menos como primeira linha de tratamento) ou substituindo os fármacos implicados.
Outras indicações passam pelo exercício físico, dieta alimentar (hipocalórica), mudanças no estilo de vida (evitar fumar, beber álcool ou consumir drogas) uso de roupas que escondam ou disfarcem as alterações corporais e a correcção cirúrgica/cosmética que tem tido grande aceitação por parte dos doentes e significativa eficácia embora os custos sejam elevados e o Estado Português não comparticipe este tipo de intervenções. O alto custo destes procedimentos torna o seu acesso limitado à maioria dos doentes.
Também têm sido usadas intervenções farmacológicas mas com eficácia limitada e por vezes com efeitos adversos como é o caso da Metformina (gordura central), Rosiglitazona, Hormona do crescimento (gordura central), Pravastatina (gordura periférica) e Anabolizantes.
A lipodistrofia traz uma diminuição acentuada da qualidade de vida e parece contribuir para a redução da adesão à terapêutica, por este motivo esta síndrome requer uma abordagem multidisciplinar de várias especialidades como médicos, psicólogos, nutricionistas e profissionais de educação física.
Autor: Isabel Pinto

8 comentários:

sideny disse...

Raul

Essas imagens realmente saõ desanimadoras, é uma das coisas que nos assusta.
pois a medicação faz-nos viver mais tempo mas com um aspecto que nao gostamos de ter.
pode ser que algum dia os medicamentos ja nao façam isso.
e como nao temos dinheirito para cirugias de correçao, la teremos de mostrar as imperfeiçoes.
beijocas

Fatyly disse...

Esta partilha é muito importante e gostei de ler.

Mas a aparência física de quem é portador do VIH e consequente tratamento, não fica muito aquém de quem sofre de um cancro e a consequente quimioterapia, de quem sofre de insuficiência renal e consequnte hemodiálise, de quem sofre de lepra e consequente amputação natural e outras.

Todas as doenças transformam o ser humano e nos casos que referi olha que quase todos têm a aparência terrível das fotos. Todos deveriam ter direito a ser subsidiados pelo SNS para um acompanhamento psicológio/psiquiátrico e quem quizesse as eventuais operações plásticas.

A vida é isso mesmo, hoje estamos bem, amanhã não sabemos...daí eu nunca virar a cara a ninguém que vejo que sofre de algo, mas dar força para que a sua auto-estima tão precária desapareça totalmente.

Agora pôr conotações, jamais e olha que o rosto com LIPOATROFIA poderá aplicar-se a outras coisas.

Certa ou errada? pode ser e quem sou eu para discordar, mas acho que por vezes o que vemos não é e aí digo que sim, há muita descriminação por cabeças que se dizem evoluídas e humanas.

O meu maior respeito por todos os que sofrem na pele tratamentos dantescos e que por vezes estão tão sós que dá dó.

Obrigado Raul pela partilha e um enorme abraço

Fatyly disse...

a velhice também deixa marca visiveís e eu jamais faria uma cirúrgia plástica como vejo por aí para parecerem mais novos, mais belos, mas quando o cajueiro abana...os cajús caem de maduros e voltam a ficar piores do qu estavam.

Para isto há dinheiro por vezes "emprestadado" mas para socorrer quem padece ou até um "queimado" e há tantos... já não há solidariedade nenhuma!!!

alex disse...

A lipodistrofia vista por estas imagens é desanimadora.Mas não passam de imagens o que interessa é que o tratamento anti-retrovírico tenha diminuído a mortalidade em doentes com VIH/SIDA.As doenças deixam marca,a velhice deixa marca ,um acidente deixa marca.Num minuto num acidente de viação perdi uma parte da cara e andei de muletas dois anos. Fiz várias operações umas subsidiadas outras não,mas as cicatrizes mais ou menos disfarçadas continuam lá.O importante é que mal ou bem sobrevivi e quando pessoas lindas,de carne e osso,verdadeiras estenderam as suas mãos e lançaram-me cordas eu agarrei-as com toda a força do meu ser.Sabes amigo o invólucro para quem nos olha com olhos de ver não interessa nada o importante é o que está lá dentro.Obg. por me fazeres pensar e não ter medo de partilhar.
beijo

alex disse...

Realmente é uma desumanidade que neste país a beira mar plantado,as
operações de cirurgia estética para aqueles que realmente precisam não sejam comparticipadas a 100%pelo estado.
Onde pára a igualdade de direitos, a solidariedade, e a liberdade de escolha??
beijo raul

Unknown disse...

Olá! Gostei bastante de encontrar este blog.
Bastante elucidativo! Concordo com todos quando dizem que o extrior não importa mais que o interior.O bem estar está muito ligado ao aceitar-se e amar-se. Isto é uma verdade. É bom lembrar que a lipodistrofia é de início gradativo e está associada, muitas vezes, aos distúrbios metabólicos listados pela autora (resitencia insulinica, dislipidemias). Então, é importante olhar-se, e dialogar com o seu médico, pois poderá ser necessário a investigação destes outros distúrbios e o tratamento dos mesmos, para se evitar doenças no coração, Diabetes, etc.
As medidas comportamentais são possíveis e ajudam muito!
As cirurgias ficam restritas aos casaos mais extremos, casos das figuras compartilhadas. Aqui no Brasil, oito cirurgias reconstrutoras são financiadas pelo governo. A maioria de preenchimento simples, realizada a nível ambulatorial. Abraços.

Mary disse...

Eu creio que todos na Terra, saudáveis ou doentes deveriam ter uma prioridade maior com Deus, visto que com isto poucos se preocupam e a morte é para todos, sendo que a salvação somente para alguns. Aquele que quiser conhecer melhor a Deus, fazer um estudo bíblico gratuito é só entrar em contato comigo.
Abaixo palavras de Jesus:
João 8:
33 Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.

rafael rech disse...

Acabo de descobrir que sou soro positivo. E na busca de mais informações, me deparei com esse site. E infelizmente, o que todas as pessoa me disseram, de que tudo ficaria bem, de que hoje em dia é normalíssimo viver com hiv e coisa e tal, não é verdade, ainda mais se as chances de eu sofrer uma dessas desenerações estéticas é muito grande em quem toma a medicação.
Sou artista, e como muito sensivel e humano que sou, sei que o importa é o que a pessoa é por dentro, e não a carapaça. Acontece que como artista cultuo o belo, busco a harmonia, tanto em no meu objeto, como em mim mesmo. Para mim a vida nada mais é do que beleza. E sinceramente, essas imagens, como a capa da Veja com o Cazuza quase morrendo (de muitos anos atrás) não são dados que me fazem mais otimistas em relação a doença. O quanto mais me informo sobre, mais minha vontade de lutar contra se torna menor. Infelizmente é isso, cometi um engano, e por causa desse erro pagarei com meu corpo, com minha energia e meu ânimo.