Não poderemos falar de suicídio sem falarmos da realidade sociológica que lhe está subjacente.
Nesta perspectiva ganha toda a pertinência o estudos realizados pelo sociólogo Emile Durkheim (1897) que, pese embora os anos decorridos, continuam a ser pertinentes.
Segundo Durkheim o suicídio não seria um acto individual na medida em que é a sociedade que determina, com as suas regras e constrangimentos, a necessidade de alguém decidir morrer.
Nesta perspectiva Durkheim identifica quatro tipos de suicídio:
Sem querer tornar-me exaustiva a aprofundar um tema que tem várias visões e vertentes de análise, detenho-me apenas na base sociológica que remete para a sociedade a responsabilidade pelos suicídios dadas as regularidades das suas ocorrências em diversos países e em pessoas nas mesmas circunstâncias.
Existe pois uma propensão generalizada, com maior ou menor aderência dadas características individuais, para que o indivíduo que aparentemente decide sobre algo tão amargo e solitário como tirar a si próprio a vida, na realidade não o faça sozinho.
Muitos são os indivíduos que ao terem conhecimento de que são portadores do HIV optam pelo suicídio. E optam por esse suicídio com medo das sanções sociais, das perdas afectivas, do isolamento e da incapacidade de lutar e de se sentirem úteis. Ou seja, o indivíduo sente-se esmagado pela sociedade que lhe aponta o dedo e que ele se sente demasiado fragilizado para enfrentar.
A morte de quem desiste – seja quem for - deverá pois pesar em todas as consciências que não souberam escutar, amar, entender e ajudar a caminhar.
Muitas pessoas, sob uma qualquer ameaça da sua integridade, desenvolvem valências antes inimagináveis e são um desafio que muito nos estimula e fortalece. Elas contribuem mais intensamente, e melhor, para um património comum de conhecimento e trabalho meritório através do apuramento de capacidades adormecidas.
Seja qual for a causa do suicídio, mesmo em situações de desesperança com receio do sofrimento físico, ninguém deve estar sozinho no momento de se despedir da vida, nem a sociedade deve ser alheia ao que individualmente lhe acontece.
Texto de: Lídia Soares
22 comentários:
Por vezes o nosso negativismo leva-nos concentrar as nossas atenções apenas nas agruras da vida, pondo de lado os pontos positivos.
A concha em que cada um de nós se fecha não deixa que o nosso próximo se aperceba aquilo que vai na mente de cada um.A ajuda, a partilha de dores e o sofrimento que podem levar a actos extremos como o acabar com a vida, não teriam razão de ser se cada um de nós fosse mais aberto e amasse o seu próximo. É o ser solitário que cada um de nós carrega dentro de si,que se acha auto suficiente para sózinho enfrentar o mundo. Quando parece não haver saída e estamos perdidos, então num acto de cobardia ou de coragem decidimos pela libertação.
Dificil analisar, compreender ou qualificar certas acções, sem conhecermos profundamente aquilo que nos leva a elas.
Certo é que todos nós um dia na vida já sentimos essa vontade de morrer, por causas que mais tarde pensamos que não tinham razão de ser.
Realmente não estar sózinho em momentos de crise é essencial para prosseguirmos a caminhada.
Pensar um pouco sobre este tema poderá ajudar a compreendê-lo e a passar-lhe ao lado quando a situação de vida, o aponta como o caminho mais fácil, mesmo que seja necessária muita coragem para o tomar.
Raul
Em minha opinião o suicídio não é um acto de coragem nem de cobardia mas sim de desespero. Há momentos em que nos sentimos perdidos, sem qualquer saída, esmagados por acontecimentos que subitamente nos caíram em cima.
Porém, querer morrer numa circunstância dessas, não é um acto individual na medida em que é o ambiente que nos rodeia que faz com que sintamos essa dor crua sem atenuantes nem saídas. Porque nesse ambiente, em que todas as portas estão fechadas, só nos podemos sentir perdidos. Há dores que ainda despertam compaixão como a perda dum ente querido. Mas quem chora e estende a mão a quem por quem, por exemplo, caiu no mundo da droga? Todos já passámos por situações em que a morte parece ser a única saída. E é pena que esses períodos que, felizmente, para muitos foram transitórios, não tenham servido para desenvolver a tal dimensão humana que nos faz estender a mão a quem precisa, sem perguntar donde vem nem por que está no chão.
Abraço
Lídia:
Infelizmente a minha avó paterna suicidou-se...o meu pai não gosta que eu diga isto...não entendo porquê...foi um facto...
Nós, por vezes não temos armadura suficiente para aguentar determinadas pressões e...penso que isso leva a uma total descrença na vida ...e ao suicidio...
Antes esteve num hospital psiquiátrico porque falava várias vezes em morte...tinha acções incoerentes...o médico aconselhou e...
Após várias tentaivas falhadas, uma resultou...
Não sofri muito porque não tinha laços afectivos muito vinculados com ela, não estava na minha terra quando tal sucedeu...
Sei que quando soube fiquei confusa...e ainda hoje acredito que se uma pessoa tiver uma ideia fixa de suicidio é muito difícil impedi-la...
Não se consegue estar 24 h junto dela...é muito fácil quando se quer cometer este acto...houveram muitas tentativas antes, evitadas a tempo...andava acompanhada...
Bem...
Antes que me esqueça, queria mandar um beijinho ao Paulo que se lembrou de deixar umas palavrinhas simpáticas no meu blog e avisou que se encontrava num local bonito...espero que se divirta...
Num momento de infelicidade absoluta é o amparo que a pessoa sente, ou não, nas pessoas que a rodeiam que irá decidir que cometa esse acto alucinado que só admito como natural em doenças ou incapacidades de grande dimensão.
Abraço
Acredito que o suicídio acontece no desespero.As vezes nos vemos encurralados e sufocados com os problemas e aí pode pintar uma vontade de sumir do mapa.Quem toma esta atitude infelizmente opta pela covardia de não enfrentar a vida até o fim.Covardia ou muita coragem?Sinceramente não sei.
Silvia
Compreendo a questão que colocas. Uma doença de foro psiquiátrico poderá levar ao suicídio? Mas será que essa doença foi tratada convenientemente? Será que foi prestado ao doente todo o amparo de que ele necessitava? Por que é que a vida se tornou tão insuportável para alguém? Não será o meio ambiente que lhe transmite esse medo de viver?
Sílvia, desistir de viver é contranatura. A menos que se sofra terrivelmente.
Beijos
M.M.Mendonça
Nem mais. Logo a decisão de morrer deixa de ser individual.
Abraço
Maria Dias
O desespero é desespero e nada mais. A pessoa perde o sentido das coisas. Não aguenta mais a dor e quer libertar-se dela. Penso que não é coragem nem cobardia.
Mas se encontrar um ponto de apoio talvez não fique desesperada.E talvez não queira morrer.
Tal como referi em relação á eutanásia continuo a defender que se ninguém deve viver sozinho muito menos deve estar sozinho no momento de morrer.
Abraço
lidia
eu acho que quem comete o suicidio esta num desespero total e ao mesmo tempo è de uma grande coragem.
penso eu.
ha 2 anos( assisti não vi amandar-se da janela felismente) um rapaz novo 20anos mas vi o desespero da familia ajanela a ver-lo ca em baixo.
foi horrivel ainda hoje me lembro disso quando vou a minha janela que è de defronte a dele.
as vezes as pessoas nâo aguentam os problemas da vida,e para elas a solução è a morte.
beijo
Gostei imenso de ler este texto, mas para além de ser sobre um tema bastante controverso num novelo de mil pontas vivi bem de perto quatro casos (um deles de um jovem) e nenhum deles, mas nenhum havia sinais, problemas, dívidas, drogas, doenças etc, etc...
e por outros que fui ouvindo, numa triagem feita apenas por mim chego à conclusão que:
- o suicidio é o meio que muitos encontram para por ponto final ao que (????) não sei, só sei que esse acto deixa marcas desvatadoras a quem fica num embrulho bem apertado: porquê? e numa interrogação corrosiva: fui eu o culpado?
É um acto de coragem e nestes casos foram programados ao segundo, o que respeito em absoluto!
"(...) ninguém deve estar sozinho no momento de se despedir da vida, nem a sociedade deve ser alheia ao que individualmente lhe acontece."
Pois não, mas há quem viva sózinho, mas em casos patológicos complicados e graves quem pode estar ao lado de alguém 24 h?
Depois bem podemos querer ajudar, mas poucos são os que aceitam e mesmo após várias tentativas mal sucedidas não querem nem ouvem ninguém.
Li e tenho todos os livros de Daniel Sampaio sobre a complexidade do suicidio e tal como sou a favor da liberdade da eutanásia, enfrento o suicidio como uma vontade própria do próprio (a), embora reconheça que muitas vezes seja uma chamada de atenção...e aí sim todo o cuidado é pouco. Mas determinados conseguem vencer e derrubam-nos completamente!
Obrigado por este momento de reflexão!
Beijocas
Sideny
O desespero não é obra do acaso e, muitas vezes, não tem a ver com um factor isolado. São tensões que se acumulam e se conjugam e que são mais indomináveis em pessoas com certas características.
No entanto reafirmo o que sempre disse: acredito na vida e na capacidade de regeneração. E acredito que é possível "regressar da morte" quando temos quem nos puxe com força.
Beijos
Fatyly
A solidão é muito mais do que alguém estar sozinho. É um acumular de indiferenças, de dedos apontados e de incompreensões. É o medo dos nossos próprios actos num reduto que outros violentam.
O suicídio é, por isso, um longo processo em que o que conta para o evitar não será tanto a vigilância sobre os passos de alguém mas o calor humano que chega a esse alguém através dos afectos e das motivações.
Não perguntes a uma árvore arrancada se é corajosa em desejar a morte. Dá-lhe antes de beber e replanta-a e verás como ressuscita (se ainda fores a tempo).
O suicídio é, em meu entender, algo muito diferente da eutanásia na medida em que no suicídio é o próprio indivíduo que perpetra o acto de morrer. Não temos que concordar ou deixar de concordar com um facto consumado e que recai quase em exclusivo sobre quem o praticou. A eutanásia é diferente. Alguém decide a morte de outrém em função daquilo que considera ser a sua vontade perante um quadro clínico irreversível (ou julgado irreversível).
Aqui levantam-se outras perguntas que, naturalmente, vão continuar sem resposta. Porém, como diz o Raul, este é um tema que iremos continuar a debater não por gosto mas porque pela sua dimensão requer que todas as vertentes de análise sejam evidenciadas.
Em síntese, o que quero demonstrar, é que, tudo o que somos e queremos, é o resultado de um processo com vários intervenientes. Assim sendo cabe a cada um de nós ajudar a construir o processo dos outros através duma interacção saudável e logo humanista e solidária. Ninguém morre sozinho quando viveu verdadeiramente acompanhado.
Beijos
Arnaldo Reis Trinda
Meu querido, é isso mesmo, o Amor é a resposta, seja qual for a resposta.
Abraço
Lídia:
Pois é..não acompanhei muito bem os acontecimentos que foram sucedendo até ao desfecho...
Sei que após várias consultas no médico este decidiu interná-la naqueles hospitais tipo Magalhães Lemos...
Lembro de a ir visitar e ver as pessoas a rebolar na relva e a dizer disparates...a minha avó no meio daquilo...
Acho que esta decisão foi bastante forte e talvez estar ali...fosse um encorajamento para se despedir da vida.
Nestes hospitais é muito triste estar e penso que só mesmo uma pessoa quase inconsciente deveria ir para lá...
Eu tinha dificuldades em ir lá...com quem desabafava ela? que amigos podia fazer ali? o que ela via à volta?
Eu quando passava nos corredores, ouvia berros, outros a atirarem-se para o chão...é muito forte...
Será que o médico tomou a opção certa ou perante um caso que não conseguia resolver tomou esta opção?
Lembro que nas vésperas ela tinha ído a uma consulta e o médico lhe tinha dito "não tenho mais o que lhe fazer".
Juntando as peças todas...
Em meios pobres nem sempre é fácil encontrar bons especialistas do cérebro...e se temos um problema na mente...somos tolos...enfim.
beijos
P.S. a minha avó tinha cancro de mama em estado adiantado e muitos outros problemas físicos...
a minha mãe teve a mesma sina e...
eu tenho uma grande historial na familia nesta doença...por isso vigio as maminhas e todos deviam fazer o mesmo.
Silvia
Pois é minha querida. Nós nunca sabemos até que ponto o meio ambiente decide a nossa desistência de viver. Mas que ele é decisivo para a nossa estabilidade emocional lá isso é. E muitas pessoas com propensões para o suicídio deveriam ser acompanhadas por psiquiatras ou psicólogos porque não querer viver é anti-natura. A natureza animal preserva a vida.
Silvia, é bom fazer prevenção mas sem tornar essa prevenção numa obsessão que pode em si ser propiciadora ao aparecimento da doença.
As probabilidades genéticas também se alteram.
Beijos
não sei entender o suícidio em circunstâncias normais, ou seja, em caso de doença mental deve ser tido como resultante da mesma e da incapacidade do indíviduo para distinguir a realidade do acto.
Conheci dois casos de suicídio nestes parâmetros e nada fazia prever os acontecimentos.
Noutras circunstâncias conheci apenas um caso em que um homem se suicidou porque se endidividou no jogo e não sabia como sair da situação; considerei um caso de cobardia por não enfrentar a vida e por ter deixado a mulher e os filhos numa situação crítica a nível financeiro..
de resto.. o que falta saber permanece no inconsciente dos suicidas. nós ignoramos.
beijos
Suicídio: Este tema sempre me deixa sem saber o que pensar. É controverso, é dificil,é tão doloroso. Há quem veja o suicida como um covarde, outros como alguém extremamente corajoso. Excetuando-se os casos de doença mental, estou mais para achar que o suicida é um corajoso. Mergulha no desconhecido, na completa escuridão, na mais absoluta interrogação. O que haverá do outro lado...?
Um abraço em todos.
M.
Cada caso é um caso e, sem dúvida,para ser analisado por quem possa minimamente entender e interpretar a sua história de vida.
Mas o homem é feito pelos outros. É com os outros que aprende a falar, a andar, a assumir valores e comportamentos.
O homem é um ser social que não sobrevive isoladamente. Todos nós entramos na formação do suicida pelos valores que lhe inculcamos, pelas solidões e incompreensões que lhe deixamos, pelos afectos a que não correspondemos.
Não será?
Abraço
M.
Cada caso é um caso e, sem dúvida,para ser analisado por quem possa minimamente entender e interpretar a sua história de vida.
Mas o homem é feito pelos outros. É com os outros que aprende a falar, a andar, a assumir valores e comportamentos.
O homem é um ser social que não sobrevive isoladamente. Todos nós entramos na formação do suicida pelos valores que lhe inculcamos, pelas solidões e incompreensões que lhe deixamos, pelos afectos a que não correspondemos.
Não será?
Abraço
Odele
Não vejo no suicídio um acto de coragem mas sim um desespero louco que leva o indivíduo a romper com a vida. Ninguém o segura. Ele está só no seu desespero.
Beijos
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