No tempo em que a SIDA era sempre noticia, nos jornais e na televisão e em que havia associações que de alguma forma ajudavam os infectados, vi uma reportagem de uma moça infectada que se tinha apaixonado e decidiu casar. Fizeram-lhe a festa de casamento, a boda e ofereceram ao novo casal uma viagem nupcial de sonho.
Nessa altura os seropositivos eram mais do que desejados, para aparecerem na televisão e falarem sobre a doença. Normalmente usavam máscaras tapando-lhes a cara, mas quando aparecia algum corajoso que não usava a máscara era o orgasmo total para os jornalistas.
Mostrar um seropositivo, como exemplar de zoológico para as grandes massas conhecerem o rosto da Sida, como se a doença tivesse rosto.
Conhecia a moça de vista, e embora na altura já estivesse infectado, ainda com certos fantasmas que teimavam em não se despegar da minha mente, gostei de a ouvir falar sobre as suas esperanças de que aparecesse a cura e pronta para realizar os seus sonhos como se o vírus fosse algo de pouca importância em sua vida.
Anos depois perguntei por ela numa associação. Depois de todo o glamour do casamento, não lhe arranjaram casa ou um meio de subsistência que permitisse ao casal ter uma vida com qualidade e lutarem por um futuro como qualquer casal não infectado. Separaram-se pois não havia viabilidade no seu projecto de vida. O noivo voltou ao consumo de drogas e morreu, não sei ao certo se pela doença ou por overdose. A moça voltou à prostituição de onde tinha saído, quando esperançada queria um projecto de vida como qualquer pessoa dita normal não infectada. Nunca mais soube nada dela evaporou-se desaparecendo de cena. Viverá ainda? Será que conseguiu refazer a sua vida? Desconheço, assim como desconheço muitas outras pessoas que estavam com projectos de reinserção social e que deixaram de ser vistas.
O importante aqui e para não divagar, sobre o apoio a seropositivos e à sua continuidade que deixa muito a desejar (se é que ainda existe), vou focar as palavras de esperança que ela tão bem transmitiu, acreditando numa cura futura. Essas palavras fizeram com que eu desenvolvesse também uma esperança da descoberta de uma cura.
Passados alguns anos continuo a acreditar, que a cura finalmente aparecerá um dia. As novas abordagens terapêuticas e o estudo de uma vacina terapêutica, vão alimentando a minha esperança com desilusões umas atrás das outras, quando algo que parece promissor se torna num fiasco. Talvez da minha parte seja, um sonho sebastianista mas continuo a acreditar esperando pacientemente.
Numa altura em que a SIDA já não enche as parangonas dos jornais e dos meios de comunicação de massas, chegou-me um email de um freelancer foto jornalista. Quer fotografar pessoas infectadas com especial relevo para pessoas com mais idade. Promete ter soluções para que a pessoa não seja reconhecida caso o deseje. Diz no dito email que não é mais uma reportagem, mas que está preocupado e procura desmistificar a SIDA e que é um projecto de vida. Entretanto no site que tem, com fotografias já tiradas estas estão à venda.
Não sei se lhe vou responder ou não, mas talvez o venha a fazer se tiver pachorra. Acho que o vou convidar a escrever para um blogue sobre a doença e publicar aqui alguns dos seus trabalhos.
O rosto da SIDA, será que pode ser capturado numa imagem com a nitidez suficiente, para que todos reconheçam um infectado? Missão impossível, digo eu. Este texto não se autodestruirá em cinco segundos depois de o ler. As imagens da SIDA, que aqui não publico, para não correr o risco de originar estigmas e descriminação para com pessoas não infectadas, que eventualmente possam ter parecenças com os modelos fotografados, estão aí.
A teimosia em criar estereótipos de pessoas com sida continua. Até quando?
Nessa altura os seropositivos eram mais do que desejados, para aparecerem na televisão e falarem sobre a doença. Normalmente usavam máscaras tapando-lhes a cara, mas quando aparecia algum corajoso que não usava a máscara era o orgasmo total para os jornalistas.
Mostrar um seropositivo, como exemplar de zoológico para as grandes massas conhecerem o rosto da Sida, como se a doença tivesse rosto.
Conhecia a moça de vista, e embora na altura já estivesse infectado, ainda com certos fantasmas que teimavam em não se despegar da minha mente, gostei de a ouvir falar sobre as suas esperanças de que aparecesse a cura e pronta para realizar os seus sonhos como se o vírus fosse algo de pouca importância em sua vida.
Anos depois perguntei por ela numa associação. Depois de todo o glamour do casamento, não lhe arranjaram casa ou um meio de subsistência que permitisse ao casal ter uma vida com qualidade e lutarem por um futuro como qualquer casal não infectado. Separaram-se pois não havia viabilidade no seu projecto de vida. O noivo voltou ao consumo de drogas e morreu, não sei ao certo se pela doença ou por overdose. A moça voltou à prostituição de onde tinha saído, quando esperançada queria um projecto de vida como qualquer pessoa dita normal não infectada. Nunca mais soube nada dela evaporou-se desaparecendo de cena. Viverá ainda? Será que conseguiu refazer a sua vida? Desconheço, assim como desconheço muitas outras pessoas que estavam com projectos de reinserção social e que deixaram de ser vistas.
O importante aqui e para não divagar, sobre o apoio a seropositivos e à sua continuidade que deixa muito a desejar (se é que ainda existe), vou focar as palavras de esperança que ela tão bem transmitiu, acreditando numa cura futura. Essas palavras fizeram com que eu desenvolvesse também uma esperança da descoberta de uma cura.
Passados alguns anos continuo a acreditar, que a cura finalmente aparecerá um dia. As novas abordagens terapêuticas e o estudo de uma vacina terapêutica, vão alimentando a minha esperança com desilusões umas atrás das outras, quando algo que parece promissor se torna num fiasco. Talvez da minha parte seja, um sonho sebastianista mas continuo a acreditar esperando pacientemente.
Numa altura em que a SIDA já não enche as parangonas dos jornais e dos meios de comunicação de massas, chegou-me um email de um freelancer foto jornalista. Quer fotografar pessoas infectadas com especial relevo para pessoas com mais idade. Promete ter soluções para que a pessoa não seja reconhecida caso o deseje. Diz no dito email que não é mais uma reportagem, mas que está preocupado e procura desmistificar a SIDA e que é um projecto de vida. Entretanto no site que tem, com fotografias já tiradas estas estão à venda.
Não sei se lhe vou responder ou não, mas talvez o venha a fazer se tiver pachorra. Acho que o vou convidar a escrever para um blogue sobre a doença e publicar aqui alguns dos seus trabalhos.
O rosto da SIDA, será que pode ser capturado numa imagem com a nitidez suficiente, para que todos reconheçam um infectado? Missão impossível, digo eu. Este texto não se autodestruirá em cinco segundos depois de o ler. As imagens da SIDA, que aqui não publico, para não correr o risco de originar estigmas e descriminação para com pessoas não infectadas, que eventualmente possam ter parecenças com os modelos fotografados, estão aí.
A teimosia em criar estereótipos de pessoas com sida continua. Até quando?
1 comentário:
O rosto da SIDA é um rosto como outro qualquer. Se por um lado é um rosto triste, amargurado, por outro é um rosto com esperança que aguarda pacientemente por uma solução eficaz. O rosto da SIDA è o rosto de milhôes de seres humanos, que sofrem desta patologia, assim como, outros milhões de seres humanos, sofrem de outras patologias. A SIDA não tem rosto, na medida em que, existe logo à seguir à pele, que a oculta e lhe dá guarida permanente e eficaz.
Abraço
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